quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A nova estratégia da indústria


Por Gabriel Albuquerque

Não precisa ser um grande fã de música para saber que a indústria fonográfica não vai bem dos bolsos. Com a facilidade dos downloads gratuitos oferecidos pela internet e até mesmo antes dos lançamentos oficiais, o disco físico é cada vez mais deixado de lado. Depois de várias tentativas em vão, a indústria parece ter encontrado a tática certa para continuar viva.

A Nielsen SoundScan, que computa as vendas de música nos Estados Unidos, registrou a nona queda consecutiva nas vendas de disco físico e digital. Em 2010 o faturamento caiu em 12,7%, e em 2011, 11% em relação ao ano passado. E tem mais: 4,98 milhões de álbuns foram vendidos na semana que terminou em 30 de maio, a marca mais baixa desde os anos 1970.

Recentemente as gravadoras parece ter percebido aquilo que todo mundo já sabia: quem gosta e tem condições de ter o álbum físico são os colecionadores/aficionados, e esse tipo de gente gosta de material diferenciado. Então veio a ideia: ''por que não criamos edições especiais/comemorativas de álbuns clássicos?''. As edições especiais de colecionadores já existem há um bom tempo, mas são bem diferentes das caixas megalomaníacas que são lançadas esporadicamente, que trazem vinil, DVD's, CD's, compactos, fotos inéditas, outtakes raros, versões alternativas, e qualquer coisa mais que possa se imaginar.

E não são apenas os grandes clássicos irrevogáveis do Primal Scream, Pink Floyd, The Rolling Stones, The Who, Nirvana, U2, Derek & The Dominos e Beach Boys que estão sendo reeditados. O novo (e apenas bom) álbum do Cake, Showroom Of Compassion em breve irá juntar-se a The King Of Limbs (novo do Radiohead) e The King Is Dead (aclamado álbum do Decemberists) e também ganhará sua edição deluxe.

Mas o consumidor mais atento que analisa o conteúdo dessas edições especiais, percebe que, com exceção da belíssima arte gráfica, não há nada muito além do disco simples original. Musicalmente revelevante, a luxuosa caixa de Nevermind do Nirvana, tem apenas três B-sides e uma faixa escondida do álbum de 1991. No fim das contas, os três CD's acabam sendo uma repetição do outro. E se você não é daqueles que vê todo e qualquer acorde de Kurt Cobain como genial, aquilo que era pra ser uma grande experiência sonora acaba se transformando em um ótimo remédio contra o sono.

Todo o espaço vazio é preenchido com qualquer coisa que chame a atenção do colecionador compulsivo. De vinil colorido à caixa de lata, passando por objetos completamente dispensáveis como um batom e um espelho de bolso, presentes no Manic Street Preachers Among All Records And Stuff.

Obviamente, os preços são exorbitantes, mesmo assim, não impedem o sucesso: Live At Leeds, do The Who, esgotou-se rapidamente no site americano Amazon, e a caixa com toda a discografia dos Smiths está vendendo como água na Inglaterra.

Depois de várias teorias sobre a morte do disco, a indústria fonográfica descobriu, nas edições de colecionadores, uma nova estratégia para driblar a falência. Basta ser mais criterioso para criar uma material musical mais instigante e não apenas megalomaníaco para encher linguiça.

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