sábado, 17 de dezembro de 2011

Review: Pélico - Que Isso Fique Entre Nós



Por Gabriel Albuquerque


O guitarrista e compositor Pélico lançou seu primeiro disco em 2008. Entitulado como O Último Dia de Um Homem Sem Juízo, o paulista mergulhou de cabeça num pop estranho, por vezes esquizofrênicos, com letras encharcadas de dramas amorosos.

Seu segundo álbum, que tem o icônico título Que Isso Fique Entre Nós, é mais palatável. Melodias mais leves e instrumentos tímidos refinados, como fagote, clarinete, piano, banjo e ukelele. Harmonias doces e meigas, por vezes levemente sacolejantes. Na verdade, uma grande armadilha para os ouvidos preguiçosos.

Todo esse som simpático e aprazível que se revela nas primeiras audições é uma moldura contrastante para Pélico expor sua impactante poesia, que vai ganhando maiores proporções à cada audição. À medida em que saímos da zona de conforto da simples música melodiosa, vamos de encontro, com toda velocidade, à um muro rochoso e extremamente sólido, formado por tijolos de melancolia e amores desfeitos.

Os arranjos minimalistas se tornam o contra-peso perfeito para letras amargas embebidas em arrependimentos. ''Não Éramos Tão Assim'' expressa nostalgia por um passado belo e perfeito que foi corroído pela rotina. E até quando se aproxima mais da linearidade do pop, como em ''Não Vou Te Deixar, Por Enquanto'' e no single ''Vamo Tentá'', a poesia áspera aparece, disfarçada, mas mas dissecando relações  tortuosas, condenadas ao fracasso com uma impressionante sensibilidade artística.

Mas onde talento de Pélico como compositor ficam à tona, de uma maneira impossível de se ignorar, é na penúltima faixa, ''O Menino''. Um olhar carregado de ironia fria e adulta (talento esse que também se ouve em diamantes do quilate de Bob Dylan e Neil Young) sobre a trajetória de uma vida inteira geram versos como ''sujou suas mãos mas o Senhor lhe perdou / afinal a inocência é um pequeno barco que nunca mais voltar pro cais'', até o doloroso e emocionante juízo final: ''E por fim, conclui: não se atravessa uma vida sem magoar alguém''.

Pélico não só concebeu um dos melhores discos desse ano. Que Isso Fique Entre Nós é um retrato de um compositor de talento ímpar em grande momento, com letras densas e melancólicas sob uma roupagem tímida, que pode até maquiar, mas não esconde a sua genialidade.



Nota 10:



Tracklist:


1. Ainda Não É Tempo de Chorar
2. Sem Medida
3. Não Éramos Tão Assim
4. Que Isso Fique Entre Nós
5. Tenha Fé, Meu Bem
6. Levarei
7. Recado
8. Vamo Tentá
9. Não Vou Te Deixar, Por Enquanto
10. Tempo de Criança
11. Sete Minutos de Solidão
12. À Beira do Ridículo
13. Minha Dor
14. Se Você Me Perguntar
15. O Menino
16. Não Corra, Não Mate, Não Morra


Clique para fazer o download gratuito, no site oficial.


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