domingo, 26 de fevereiro de 2012

Review: Siba - Avante


Por Gabriel Albuquerque

Ao incorporar a rabeca ao seu repertório, Siba Veloso mergulhou de cabeça no mundo do instrumento. Ele jamais pensava que tocaria guitarra em disco novamente. A paixão foi tão arrebatadora que ele chegou a desfazer-se de todas as suas guitarras, com exceção de Gianinni, seu primeiro instrumento, que comprou quando tinha 16 anos. E eis que chega 2012 e Gianinni volta à ativa e reconecta Siba às suas raízes elétricas em Avante, seu novo álbum solo.

A volta à guitarra elétrica (influência da amizade com Fernando Catatau, guitarrista do Cidadão Instigado e um dos principais instrumentistas do país), conduz Siba por caminhos trilhados no rock, mas não o liga diretamente ao gênero. Também não houve ruptura com o universo da Zona da Mata pernambucana. Tudo faz parte de um grande misto de linguagens que variam do rock à música africana. Mas que mantém a sua assinatura tão original, conectado sempre à poesia nordestina que fizeram seu nome no Mestre Ambrósio e à frente da Fuloresta - dois grupos seminais da música pernambucana, que uniram os ritmos regionais à sonoridades do pop antes mesmo de Chico Science.

No geral, Avante segue linhas instrumentais simples. O grande destaque está nas letras, com forte inclinação à poesia, que se misturam com situações de seu cotidiano/acontecimentos de sua vida pessoal. É o caso da melancólica ‘’Qasida’’, onde Siba percorre memórias afetivas; ‘’Canoa Furada’’, antiga canção da Fuloresta que ganhou o peso de tubas, guitarras e flautas a la Jethro Tull e conta a história de um homem que saiu para pescar e acabou cercado por cercado por tubarões; ‘’Bagaceira’’ é um retrato do frenético carnaval pernambucano; e ‘’Preparando o Salto’’, que abre o play, mostra Siba à procura de sua identidade em meio ao caos – a melhor composição de Avante
.
‘’Mute’’ é uma vinheta instrumental aguada e ‘’Um Verso Preso’’ é um poema engessado declamado por Lirinha, ex-Cordel do Fogo Encantado. Dois momentos desprezíveis, mas compensados pela faixa seguinte, ‘’Avante’’, a mais pesada do disco.

Siba pode ser facilmente taxado como pretencioso - e talvez ele seja mesmo -, juntamente com os seus conterrâneos do Mombojó e Eddie. Mas Siba, diferente dos demais, é dono de um lirismo poderoso e total domínio sobre suas letras que mantém sua poesia firme e concreta.

Siba é um artista talentoso e que não se prende a formulas. Rico e cativante, Avante sintetiza com maestria todo o seu espírito inquieto: sempre em frente, sempre avante.



Nota 8,5


Tracklist:
1.Preparando o Salto
2.A Brisa
3.Ariana
4.Cantando Ciranda na Beira do Mar
5.Bagaceira
6.Canoa Furada
7.Mute
8.Um Verso Preso
9.Avante
10.Qasida
11.Bravura e Brilho

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